quarta-feira, 19 de março de 2014

Material de apoio e letras de música para Plano de aula: "A influência do contexto histórico na produção cultural"

Letras das músicas:

"Solange"
"Uma vida só - Pare de tomar a pílula"
"Alegria, alegria"
"Pra não dizer que não falei das flores"
"Veraneio vascaína"

Links para baixar as músicas:

  "Solange"
"Uma vida só - Pare de tomar a pílula"
 "Alegria, alegria"
 "Veraneio Vascaína"
 "Pra não dizer que não falei das flores"




Material de apoio
Contexto histórico da música "Veraneio Vascaína" (1986)
A música foi composta por Renato Russo e Flávio Lemos em 1986. Esses dois jovens roqueiros viviam em Brasília, onde, nessa época, o costume de muitos jovens de várias classes sociais era organizar “Roconhas”. Eram festas feitas em sítios e movidas a muito rock, bebidas e drogas. A polícia reprimia esses encontros com violência e com resquícios da ditadura, pois quem fosse filho de militares era tratado de maneira diferente, mais “branda”. Foi após viver uma experiência semelhante que o músico Renato se inspirou para compor “Veraneio vascaína”, popularizada pela banda “Capital inicial”. Na época o carro usado pela polícia costumava ser o “Veraneio Chevrolet”, caracterizado com as cores preto, branco, cinza e vermelho, que coincidentemente são algumas das cores do time do “Vasco”, daí o uso do termo “veraneio vascaína” na letra da música para indicar a chegada da polícia. 
Análise da música “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso. (1967)
Se, devido ao regime ditatorial, as pessoas deviam andar na linha obedecendo e se submetendo a regras e metas previamente estipuladas, em “Alegria, alegria”, Caetano propõe uma caminhada “contra o vento”, ou seja, contra a ordem imposta das coisas, mas com “alegria”, sem luta, apenas seguindo um modo diferente de comportamento, indo contra as convenções sociais da época.
Para ele a música era a forma de expressão do jovem, e o seu descaminho era sua forma de manifestação.
Caetano Veloso exultou a felicidade, a alegria. Convocando uma resistência afirmativa, construtiva. O tom astral da música chama à vida e vai contra a principal prática dos adeptos da ditadura: a morte, e a dos reacionários: a luta.
Alegria, Alegria não se caracteriza como uma canção de protesto igual a tantas outras compostas nessa época. Ao contrário, a música de Caetano questionava as ideias e as tensões daquelas que lutavam contra a Ditadura: enquanto o sol repartia-se “em crimes, espaçonaves e guerrilhas”, ele seguia, “sem lenço e sem documento”, “andando contra o vento”.
"Caminhando contra o vento" tem o significado de ir contra aquilo que todos estão fazendo. E, naqueles tempos, o que todos faziam girava em torno da ditadura militar, seja apoiando ou lutando contra ela. E o eu lírico estava fugindo desse universo de brigas, confrontos, imposições de ideais e afins.
"Sem lenço, sem documento". Esses versos nos expressam liberdade. O eu lírico mostrar seguir vivendo livre de convenções, regras sociais, ou seja, livre de instrumentos desnecessários fora de uma sociedade, como lenços e documentos.
"No sol de quase dezembro" descreve o cenário e o estado de espírito do lugar de onde o eu lírico foge. Em dezembro se dá o ápice do verão no hemisfério sul. Imagine, então, a incidência forte do sol sobre essa parte da Terra. Não é muito fácil de aguentar muito tempo debaixo do sol de dezembro. Para o eu lírico, não era nada fácil aguentar a atmosfera de brigas e guerrilhas da ditadura militar por muito tempo.
"Eu vou". O eu lírico confirma por palavras que vai embora. Vai pra longe de todas as lutas entre socialismo e capitalismo.
"O sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas, em Cardinales bonitas (eu vou), em caras de presidentes, em grandes beijos de amor, em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot". O Sol, neste ponto, representa um jornal-escola socialista criado por Reynaldo Jardim 1967, anos de ainda grande repressão militar. Sabendo desse fato, os versos descritos acima nos remetem às folhas de jornais, onde circulam notícias dos mais variados tipos, inclusive sobre os movimentos socialistas, suas guerrilhas (Che Guevara), suas bandeiras (ideais), as influência estrangeiras na cultura do Brasil (cinema: Claudia Cardinale e Brigitte Bardot), a guerra no Vietnã (bomba), a corrida espacial entre EUA e União soviética (espaçonaves) e tudo mais. É o contexto histórico.
"O Sol nas bancas de revista me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia? Eu vou...". A quarta estrofe de “Alegria, Alegria“ nos mostram a opinião do eu lírico sobre os fatos noticiados pela imprensa socialista da época. Ele fica feliz, como não poderia deixar de ficar, pois, apesar de tudo, não é adepto ao que é ditado, imposto. Mas tem também preguiça, acomodação. Ora, o que sentia o eu lírico, era que ele não tinha nada em relação ao que estava acontecendo ali. Qual a razão em lutar, fazer protestos, brigar por aquele ideal? É melhor, mais fácil seguir vivendo, sem conflito.
"Por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos.". O eu lírico, nesse ponto, relata um pouco da utopia de sociedade perfeita que rodeavam os ideais socialistas naquela época. As fotos, os nomes, as cores das notícias dos jornais enchiam os jovens socialistas de esperança, de ilusão, de um amor pátrio que, embora dotado de boas e grandes intenções, não valia muito. Por isso, o eu lírico iria embora daquele meio. Por que não? Por que ficaria?
Análise da música “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. (1967)
A música de protesto “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré pode ser considerada como um dos símbolos da resistência e luta contra a ditadura. Diferente da canção de Caetano Veloso, ainda que de forma velada para burlar a censura, ela convoca o povo a reagir, a lutar contra a opressão do regime militar. 
“Caminhando e cantando e seguindo a canção / Somos todos iguais braços dados ou não”: representa as passeatas que reuniam, em sua maioria, jovens que tinham consigo um desejo de mudança, ambições e sonhos, eram movidas a cartazes de protestos, a vozes gritantes que entoavam hinos e músicas. Essa frase também nos mostra que independente de crenças e idéias, as pessoas são iguais, estando elas do mesmo lado ou não.
“Nas escolas nas ruas, campos, construções”: as manifestações eram compostas de pessoas de diversos ambientes, mas que possuíam o desejo de mudança em comum: agricultores, operários, camponeses, mulheres, jovens, professores, jornalistas, intelectuais, padres e bispos.
“Vem, vamos embora, que esperar não é saber” esse trecho contesta sobre aqueles que sofriam o momento na pele e não faziam nada, afinal não se muda um país ficando parado.
“Pelos campos há fome em grandes plantações”: as pessoas que trabalhavam nos campos, ou que eram agricultores, também sofriam com a ditadura, dos poucos que possuíam um pedaço de terra a mesma lhe era tomada, os camponeses muitas vezes eram despejados e acabavam por passar fome.
“Pelas ruas marchando indecisos cordões”: cordões é como ficou conhecido os grupos de foliões no carnaval. Assim eram compostas algumas das manifestações, como foi o caso da Passeata dos Cem Mil, que parecia ser dividida em blocos: artistas, mães, padres, intelectuais e entre outros, que em muitos casos, caminhavam indecisos ou com medo dos militares.
“Ainda fazem da flor seu mais forte refrão / E acreditam nas flores vencendo o canhão”: enquanto os militares reprimiam os protestantes com canhões, bombas de gás, e armas, a população saia nas ruas com cartazes e com a força de suas vozes, muitos atirando pedras e tudo o que se estivesse ao alcance, mas nada parecia ser tão forte e provocante quanto os gritos, as palavras de ordem dos movimentos estudantis, frases e músicas daquele ano, essas sim eram suas verdadeiras flores
“Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão”: os soldados estavam sempre armados e dispostos a prender os manifestantes e levá-los para as salas do DOPS (Departamento de ordem política e social), porém, muitos pareciam alienados, não sabiam direito o que acontecia ou fingiam não saber, para quem sabe assim se redimir da culpa de tantas mortes e “desaparecimentos” da época. Mas tinham famílias, namoradas, mãe, irmãos podiam sim ser amados por alguém ou então odiados por todos. Muitas manifestações foram, sobretudo, contra a violência dos policiais.
“Nos quartéis lhes ensinam antigas lições / De morrer pela pátria e viver sem razão”: Os soldados aprendiam lições e como se houvesse uma lavagem cerebral aceitavam cumprir as ordens do governo. Eles aceitavam morrer pelo seu país, mesmo que para isso eles fossem recriminados pela população e tivessem que viver sem anseios e sem razão, afinal de contas eles só serviam para fazer o trabalho pesado para os governantes.
“Os amores na mente, as flores no chão / A certeza na frente, a história na mão”: a maioria, se não todas as pessoas que participavam ativamente dos manifestos eram motivados pelas perdas que sofriam, pelas mortes de amigos, parentes, conhecidos, pela dúvida do que acontecia com as pessoas que eram levadas. Eram guiados pela certeza de que poderiam mudar o mundo e pela história que cada um deles possuía.
“Aprendendo e ensinando uma nova lição”: a lição que a música quer aprender e ensinar é a de que não se muda o país, ou a história ficando de braços cruzados, alienados e conformados com a situação, mas sim lutando pelos ideais de justiça, liberdade e igualdade, e sabendo como é importante conhecer os próprios direitos e deveres, para que se construa uma sociedade melhor e democrática, pois esse é o nosso principal dever como cidadãos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário